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28 dezembro, 2015

Ugly Love, da Colleen Hoover

Ugly Love

Autor(a): Colleen Hoover
Editora: Atria Books
Titulo no Brasil: O Lado Feio do Amor
Ano: 2014
Paginas: 322
IBSN: 1476753180 
Inglês nível: A1
no goodreads e no skoob

Quando seu atual relacionamento termina, Tate, 23 anos, decide que talvez seja uma boa ideia deixar San Diego para trás e ir passar um tempo no apartamento do seu irmão mais velho, Corbin, em San Francisco, Califórnia. Tate está pronta para focar sua atenção no seu mestrado para se tornar anestesista. Com uma agenda lotada de afazeres, já que ela se divide entre estudos e turnos em horários inconstantes no Hospital, a garota pretende arranjar um apartamento para ela mesma o mais breve possível, antes que seu relacionamento pacífico com seu irmão se desgaste e eles voltem a boa vida de briguinhas idiotas como quando eram adolescentes. 

Porém, logo no seu primeiro dia de mudança fica claro que vida pacata de estudante está longe de ser o que a aguarda no futuro.

Isso porque, como vizinho, ela tem Miles, um piloto de aeronaves como todos os homens da família dela. Claramente o cara é detentor de um passado e histórico bem diferente do que ela está habituada. Miles é taciturno e parece nunca demonstrar emoções. O problema é que, quando uma pequena rachadura na real personalidade de Miles se abre para Tate, combinada com a atração ridícula, nível estática pura e direito a algumas faíscas, ela descobre que é quase impossível se afastar da forma mais discreta possível, sem causar estragos para nenhum dos envolvidos.

“Don't ask about my past. And never expect a future.” 


Sou uma dessas pessoa que se você chegar em mim e me perguntar sobre o que determinado livro se trata, facilmente consigo bolar uma sinopse livre de spoilers para você. Mas, a menos que eu escreva ou fale sobre o livro, as chances dos detalhes se perderem em algum cantinho escuro do meu cérebro são altas. Raramente lembro de uma quote que seja característica do livro, qual o tipo de humor, se os personagens eram mais secos ou sensíveis, esse tipo de coisa.

Com Ugly Love, essa regra geral não se aplicou. Quando resolvi que finalmente era hora de escrever sobre esse livro várias cenas surgiram tão rápido na minha memória que fiquei me perguntando se elas não eram produtos da minha imaginação. Só pra ter certeza, reli ele e wow, eu realmente lembrava de cada detalhe. Diálogos, o ritmo que a Colleen impõe na história com sua escrita. Tudo ainda estava vivido aqui dentro, e mano do céu, se isso não o torna em uma pequena raridade.

“Listen, Tate. I want your mess. I want your clothes on my bedroom floor. I want your toothbrush in my bathroom. I want your shoes in my closet. I want your mediocre leftovers in my fridge.” 

Mais do que isso, lembro de como me senti lendo Ugly Love. Cada parte que me faria rir, cada parte que me faria chorar, cada dialogo que me frustraria, cada declaração que me faria estremecer. Como me senti sufocada, contente, aliviada, como se durante a leitura eu estivesse dentro de uma caixa, como se fosse eu quem estivesse ali travando batalha após batalha conta meus sentimentos, meus demônios, meu passado. Foi tão fácil me colocar no lugar do Miles e da Tate, sentir o que eles sentiram. 

Ugly Love é um livro à la Colleen Hoover. É difícil acreditar e aceitar que tanta coisa ruim poderia acontecer com uma pessoa só, mas ao mesmo tempo é um livro ridiculamente realístico e possui um toque de humor irônico característico da autora. Com um nível alto de drama (não o tipo ruim de drama, mais para o tipo trágico), existe uma tristeza velada, mesmo nas cenas mais engraçadinhas, ou nas cenas onde a paixão entre os dois era asfixiante. Mesmo nas pequenas e lindas cenas, como quando Miles e Tate saem para comprar cortinas para o apartamento dele, metáfora para a forma como a própria Tate entrou na vida de Miles e sutilmente o moveu. 

Tate? Ela é uma mulher. Ela não é uma garota, não é uma menina. Ela vive pelas suas próprias expectativas, é responsável pelas suas escolhas e quando as coisas explodem na cara dela, ela sabe que foram consequências dos caminhos que ela toma. De forma alguma ela é a personagem feminina mais "forte" que já encontrei por ai, mas ela certamente entra para o hall de personagens mais humanas que já esbarrei nesses anos como leitora ávida.

Foi frustrante como ela parecia incapaz de dizer não em alguns momentos, ainda que ela se sentisse desconfortável. Claro, adorei quão teimosa ela foi de não ter desistido do Miles nas várias vezes que ele mereceu ter o traseiro chutado. Adorei ainda mais que, quando ela finalmente atingiu seu limite, ela vomitou verdades sobre o cara que o fizeram para e pensar "Ai carai, que foi que eu fiz". Logo, mesmo não concordando com o que ela estava fazendo metade do tempo, foi fácil respeita-la.

“I’m not Tate when I’m near Miles. I’m liquid, and liquid doesn’t know how to be firm or stand up for itself. Liquid flows. That’s all I want to do with Miles. Flow."

O Miles fechado e misterioso é um produto do que aprendemos quando este assume o POV do livro e nos leva seis anos atrás. Eu sabia bem que era idiotice odiar o cara logo de cara, mesmo que por vezes ele fosse um perfeito canalha. Em uma narrativa que beira o lírico, pouco a pouco desvendamos o passado desse personagem, que para muitos não justifica suas atitudes, mas definitivamente as explica. 

Quando o conhecemos, a impressão que fica é que Miles está em modo de sobrevivência, focando apenas naquilo que lhe traria alguma similaridade com uma vida normal. No momento em que seu relacionamento com Tate começa a evoluir, é engraçado porque o leitor sente que ele começa a se abrir, mesmo que ele mesmo não enxergue isso. 

Falando em não enxergar, tem um momento no livro em que nós leitores descobrimos qual é o grande mistério, o grande segredo por trás do Miles, mas isso não significa que a Tate descobre ao mesmo tempo que a gente. Então imagina a agonia de saber que o homem que você ama tem sido uma grande bola de sofrimento, e você nem sabe o porquê. Ugh.

Mas aqui entre nós? Meu predileto foi o Cap. Cap é fora zelador do prédio onde Tate e Miles moram, mas por causa de sua idade, agora ele cuida do elevador. Sim, velhinhos geralmente são meu fraco, só que o Cap foi diferente. O cara tinha os melhores conselhos, as melhores palavras de sabedoria e um senso de humor e justiça imbatível.

“Some people they grow wiser as they grow older. Unfortunately, most people just grow older.”  

Ugly Love é um new adult mas ele se destaca pelas suas cenas de sexo elegantemente descritas. Eu sei que muita gente não curte o gênero por se sentir desconfortável com cenas muito gráficas e descritivas, e para essas pessoas eu sempre recomendo Colleen Hoover. O diferencial aqui é que a autora vai além de contar o processo, ela descreve as sensações, as emoções por trás daquele momento íntimo, por trás de cada toque, de cada olhar. Parece que cada uma foi singular e significou algo diferente. 

Esses personagens, suas vidas, é tão palpável, você os vê, os sente em cada página, em cada palavra. E isso migos, é Colleen pura. Essa facilidade de se conectar com personagens que tem experiências de vida tão distintas da que nós vivemos. Esse se apegar tanto à uma criatura fictícia que ela vai te seguir por aí por um bom tempo. Não tem nada que eu aprecie mais em um livro do que ser capaz de fechar os olhos e ver a realidade se misturando com a ficção. São personagens tridimensionais, entende? 

Intenso, cheio de altos e baixos, o enredo de forma geral é impecavelmente construído. Os capítulos intercalados, mesmo que em tempos diferentes, complementavam-se. O timing foi perfeito. Apesar de ter sido tudo muito difícil, ao mesmo tempo tudo que acontece é muito natural. A grande sacada aqui é o desenvolvimento dos personagens se projeta para o passado e para o futuro. O processo de descobrimento, seja leitor vs. personagem, ou personagem vs. personagem é dosado para que o leitor precise de mais, mais, mais! 

E quando recebemos mais, a chances são de corações estraçalhados largados pelo caminho.


Se é o livro que recomendaria para quem quer começar Colleen Hoover? Não mais. Acho que Métrica é o começo perfeito.  Ugly Love é Colleen praticamente concentrada, então acho que vale ter um gostinho do que ela é capaz antes de se jogar no romance.



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