A Saga dos Corvos #2: Ladrões de Sonhos
Autor(a): Maggie Stiefvater
Editora: Verus
Titulo Original: The Dream Thieves
Ano: 2013
Páginas: 431
Naquele momento, Blue estava um pouco apaixonada por todos eles. Pela magia deles. Pela busca deles. Pela voracidade e pela estranheza deles. Seus garotos corvos.
Depois dos eventos finais caóticos de Garotos Corvos, em Ladrões de
Sonhos voltamos a Henrietta para as férias de verão. Se no primeiro livro o
foco era em grande parte direcionado a família médium de Blue e a busca
por Glandoware de Gansey, no segundo volume da série fantástica (tanto em
gênero, quanto em qualidade) a luz se volta para Ronan e Adam, os papéis que
eles virão a atuar daqui para frente nesse distorcido quinteto de amigos.
Adam está tendo que aprender a lidar e compreender as consequências de
seu sacrifício para acordar as linhas ley: ser os olhos e mãos de
Cabeswater. Ao mesmo tempo em que Ronan é forçado a entender seu curioso poder
de tirar objetos e criaturas de dentro de seus sonhos, uma vez que sua vida
parece depender desse conhecimento. Como se não bastasse isso, as linhas ley
começaram a se mostrar instáveis (tão forte algumas vezes que causava queda de
energia elétrica, mas tão fraca em outras que o pobre Noah as vezes fica
impossibilitado de aparecer para seus amigos). E com o acréscimo do Homem
Cinzento ao nosso grupo de personagens, vem também uma ameaça iminente à um dos
Garotos Corvos.
Preciso confessar que foi um livro bem confuso de ler. Tanto que, após
dois capítulos, decidi que ia reler o primeiro livro do quarteto para ver se me
situava, e acabou que não ajudou em nada. Cheguei a teoria que Ladrões de
Sonhos é confuso por natureza e a confirmei quando bati a marca dos 60% lido,
que foi quando tudo começa a meio que se encaixar.
Me enervou um pouco como um livro parecia desconecto do outro, como a
busca por Glandowere parecia esquecida e de canto. A mitologia e caça ao Rei
Galês é uma das coisas que mais gostei no volume anterior e eu me senti privada
disso. Não quero dar spoilers, mas se você acontece de estar tentando entender Ladrões
de Sonhos nesse exato momento, acho válido te dizer que tudo vai fazer
sentido ao final, e seu crebro ter sido bombardeado vai valer
a pena.
O que mais me deixou contente com essa leitura foi a presença mais
constante das residentes da Rua Fox, 300. A mitologia de Stifvater é muito
eficiente e acreditável, eu diria, e são Maura, Calla e Persephone que fazem a
parte mágica do livro tão atingível. O fato do tempo ser dobrável e delas o
descreverem como um círculo e não como uma linha reta é fudidamente intrigante.
Não apenas isso, mas a naturalidade com que as coisas acontecem é de fazer cair
o queixo. Já disso isso antes e repito: a atmosfera que Maggie cria é com
certeza uma das coisas que fazem seus livros terem tanto destaque e serem tão
diferentes de qualquer outra coisa deste mundo. A sensação de que tudo que está
acontecendo é um grande sonho é bizarra no sentido mais delicioso da
palavra.
Mas se formos apontar o que mais me deixou puta,
Adam recebe o troféuzinho com honras. Meu Deus, como foi difícil minha relação
com o coca-cola shirt. Por mais que eu entendesse a situação dele,
que me partisse o coração e que muito que estava acontecendo estava além do
controle dele, o orgulho por vezes o tornava obtuso! Ronan, com toda sua
irresponsabilidade e insensibilidade não me incomodou tanto quanto Adam.
Não que ter acompanhado Ronan tenha sido a coisa mais fácil do mundo.
Apesar de estar sempre inclinada a gostar dos caras mais sofridos das
histórias, Ronan é um personagem complicado. Maggie se mostra mais uma vez
muito boa em seu trabalho, porque da mesma forma que o cara não deixa todos os
outros personagens chegarem muito perto, os leitores também são mantidos a distância,
tornando impossível conhecê-lo por inteiro - porque sim, fui ler várias
resenhas para ver se eu não era a única que não estava conseguindo me aproximar
dele. Aprendemos muito sobre seu passado e alguns de seus maiores segredos, e
tem uma cena em particular que me marcou muito, onde parece que o peso do mundo
saiu dos ombros de Ronan. Mas veja, tudo isso é mostrado e visto por de trás de
um vidro que aos poucos ia desembaçando.
Essa é a beleza da narrativa em terceira pessoa. Enquanto nós
acompanhamos todos eles, não somos eles e não sabemos exatamente o que se passa
dentro da cabeça deles o tempo inteiro.
Então saiba, esse é um livro complexo, com camadas e mais camadas e mais
camadas. A narrativa não é a mais fácil da vida (apesar de ser maravilhosa) e
os personagens estão o mais distante possível de serem convencionais.
Infelizmente, isso tornou a leitura lenta e precisei dar uma pausa nele para
ler algo mais "leve" porque temi cair em uma ressaca literária. O
ritmo melhora muito lá pelo capítulo 30, onde os acontecimentos começam a...
bem, acontecer paralelos uns aos outros e vira uma lou-cu-ra. E o final? Nem
nas minhas teorias mais malucas (e tenho tantas teorias que chega a ser
ridículo).
No final das contas gostei muito, mas não tanto quanto Garotos Corvos,
principalmente por ter demorado muito para me situar e adaptar e me perder na
história. Seria louco não reconhecer a beleza e força da escrita, da mitologia,
dos personagens e do universo intrínseco criado, e nunca no mundo eu
largaria essa série de mão. Ainda assim esperava que as coisas se movessem um
pouco mais rapidamente. É aquilo né, nem tudo que é bom é fácil.
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