Em
14 de agosto de 2015 Melanie Martinez, 21 anos, solidificou o que se esperava
dela desde sua participação no programa de TV norte-americano The Voice (NBC). A data marca o
lançamento de seu primeiro álbum de estúdio “Cry Baby”, pela gravadora Atlantic
Records. O disco é composto por 13 músicas e reflete a personalidade (ou
persona) artística de Melanie: único, excêntrico e conceitual.
Melanie
Adele Martinez é cantora e compositora, nascida em Baldwin, Nova Iorque. Após
ser eliminada na quinta semana do The Voice, Melanie começou a trabalhar com
seu material de forma independente, mas logo assinou contrato com a gravadora
Atlantic Records, label pela qual também lançou seu EP Dollhouse, que contém os
singles “Dollhouse” e “Carousel”.
Euzinha
Gabriela Mello só fui descobrir a artista no início do ano, depois da
indicação de uma amiga (Pam, sua linda!) que me prometeu uma experiência completamente diferente
de tudo que eu imaginava. Depois, ela se pôs detalhar os porquês e os comos e
fiquei curiosa para ver se seria aquilo tudo mesmo.
O
álbum é uma mistura equilibrada de eletropop, dark wave, indie pop, eletrônico
e hip-hop, o que o torna diverso, ainda que nele sigamos um mesmo enredo: A
vida de Cry Baby, uma garota marcada por traumas, tragédias e melancolias. Entre
as treze faixas, não só a veremos crescer, como também teremos uma visão bem
detalhada de cada momento durante seu crescimento que a marcou de forma, principalmente, negativa.
É
pela faixa-título “Cry Baby” que começamos nossa jornada e somos apresentados a
personagem – completamente fictícia, segundo Martinez, apesar desse ter sido
seu apelido quando mais nova, graças a sua natureza emotiva. Nesse sentido, Cry
Baby é semelhante à sua criadora. “Você parece trocar seu cérebro pelo seu
coração” é o verso que abre a canção e diz muito sobre a personagem. Porém é a
repetitiva frase “te chamam de bebê chorão, bebê chorão, mas você não dá a
mínima” que precisamos manter em mente, pois ela é o gancho para o restante do
disco. Cry Baby pode ser emotiva, mas fica claro que também tem personalidade
forte.
Em
Dollhouse, segunda canção do álbum e extraída do EP homônimo, que conhecemos
talvez os principais responsáveis pela depravação moral de Cry Baby: “Todo
mundo pensa que nós somos perfeitos. Por favor, não deixe eles olharem através
das cortinas”. A música é um grito de socorro, talvez o último dado antes que a
personalidade afetada da garota se concretize, já que na canção seguinte, Sippy
Cup, ela nos conta sua situação mental ao cantar “crianças continuam
depressivas quando você as veste bem”
Forte
característica do trabalho de Martinez são os elementos sonoros que ela
incorpora ao instrumental e como eles são diretamente ligados a história que
cada uma delas conta. Em Carousel, a melodia faz referência às típicas músicas
circenses, porém com um toque obscuro que se pareia à letra dramática; Em Soap
a transferência após o refrão é feito por um trap com barulho de bolhas de sabão; Até mesmo na faixa inicial
“Cry Baby”, onde podemos escutar risadas de crianças pequenas.
Melanie
então nos presenteia com o bom uso de aliterações e assonâncias nas estrofes 1
e 4 de “Alphabet Boy”, canção onde Cry Baby dá um basta em seu namoradinho que
gosta de diminui-la chamando-a de infantil e imatura intelectualmente. A canção
é destaque no álbum também graças ao fundo sonoro de sininhos de ninar.
O
grande destaque do álbum fica para as canções “Pity Party” e “Tag, You’re It”.
Na primeira, temos o exato momento em que a personagem surta, ao perceber que
ninguém se importa o suficiente para dar um pulinho em sua festa de aniversário (nem mesmo o
namoradinho por quem declara seu amor na música anterior, “Training Wheels”)
que foi tão arduamente planejada, decorada em tons pasteis. Cry Baby tem um
ataque de raiva e destrói o lugar completamente enquanto chora por sua solidão.
Já
“Tag, You’re It” é a mais forte de todo o álbum, mais pesada até que sua
sucessora, Milks and Cookies. Nela, acompanhamos a personagem que vai ao
supermercado, mas é interceptada por um pedófilo e sequestrada. Retoma a ideia
da inocência roubada e destruída ao utilizar a tradicional rima Eenie meenie miny mo para descrever pelo
que passou.
Além
das músicas supracitadas, também são parte do álbum “Pacify Her”, “Mrs. Potato
Head” e “Mad Hatter”, que encerra o álbum.
Mesmo
com a qualidade sonora e das letras, duras críticas caíram sobre Melanie, uma
vez que o tema melancólico tem sido muito explorado nos últimos anos, tendo
artistas como Lana Del Rey, Sia e Florence and the Machines como exemplos. O
grande diferencial de Martinez porém, é que para transpor tal sentimento, ela
cria uma narrativa e em momento algum foge de seu eixo, amarrando as canções
umas às outras. A temática é forte, inclui morte, violência, abuso sexual,
pedofilia e afetação moral, por isso sua classificação indicativa de dezoito
anos deve ser respeitada.
Não
se pode negar o lirismo fascinante e como cada detalhe parece ter sido
considerado no processo de composição do álbum. A voz angelical de Martinez
pareada com as letras e melodias soturnas deram ao disco uma atmosfera teatral
e sombria, feito realizado por uma artista relativamente jovem tanto na vida,
quanto na indústria musical. Cry Baby é para aqueles que buscam o inesperado,
um sopro de novidade em um cenário musical saturado da boa e velha
mesmice.
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