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05 junho, 2016

Quando um apelido maldoso se torna um álbum de sucesso.

Em 14 de agosto de 2015 Melanie Martinez, 21 anos, solidificou o que se esperava dela desde sua participação no programa de TV norte-americano The Voice (NBC). A data marca o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio “Cry Baby”, pela gravadora Atlantic Records. O disco é composto por 13 músicas e reflete a personalidade (ou persona) artística de Melanie: único, excêntrico e conceitual.

Melanie Adele Martinez é cantora e compositora, nascida em Baldwin, Nova Iorque. Após ser eliminada na quinta semana do The Voice, Melanie começou a trabalhar com seu material de forma independente, mas logo assinou contrato com a gravadora Atlantic Records, label pela qual também lançou seu EP Dollhouse, que contém os singles “Dollhouse” e “Carousel”.

Euzinha Gabriela Mello só fui descobrir a artista no início do ano, depois da indicação de uma amiga (Pam, sua linda!) que me prometeu uma experiência completamente diferente de tudo que eu imaginava. Depois, ela se pôs detalhar os porquês e os comos e fiquei curiosa para ver se seria aquilo tudo mesmo.


O álbum é uma mistura equilibrada de eletropop, dark wave, indie pop, eletrônico e hip-hop, o que o torna diverso, ainda que nele sigamos um mesmo enredo: A vida de Cry Baby, uma garota marcada por traumas, tragédias e melancolias. Entre as treze faixas, não só a veremos crescer, como também teremos uma visão bem detalhada de cada momento durante seu crescimento que a marcou de forma, principalmente, negativa.

É pela faixa-título “Cry Baby” que começamos nossa jornada e somos apresentados a personagem – completamente fictícia, segundo Martinez, apesar desse ter sido seu apelido quando mais nova, graças a sua natureza emotiva. Nesse sentido, Cry Baby é semelhante à sua criadora. “Você parece trocar seu cérebro pelo seu coração” é o verso que abre a canção e diz muito sobre a personagem. Porém é a repetitiva frase “te chamam de bebê chorão, bebê chorão, mas você não dá a mínima” que precisamos manter em mente, pois ela é o gancho para o restante do disco. Cry Baby pode ser emotiva, mas fica claro que também tem personalidade forte.

Em Dollhouse, segunda canção do álbum e extraída do EP homônimo, que conhecemos talvez os principais responsáveis pela depravação moral de Cry Baby: “Todo mundo pensa que nós somos perfeitos. Por favor, não deixe eles olharem através das cortinas”. A música é um grito de socorro, talvez o último dado antes que a personalidade afetada da garota se concretize, já que na canção seguinte, Sippy Cup, ela nos conta sua situação mental ao cantar “crianças continuam depressivas quando você as veste bem”

Forte característica do trabalho de Martinez são os elementos sonoros que ela incorpora ao instrumental e como eles são diretamente ligados a história que cada uma delas conta. Em Carousel, a melodia faz referência às típicas músicas circenses, porém com um toque obscuro que se pareia à letra dramática; Em Soap a transferência após o refrão é feito por um trap com barulho de bolhas de sabão; Até mesmo na faixa inicial “Cry Baby”, onde podemos escutar risadas de crianças pequenas.

Melanie então nos presenteia com o bom uso de aliterações e assonâncias nas estrofes 1 e 4 de “Alphabet Boy”, canção onde Cry Baby dá um basta em seu namoradinho que gosta de diminui-la chamando-a de infantil e imatura intelectualmente. A canção é destaque no álbum também graças ao fundo sonoro de sininhos de ninar.

O grande destaque do álbum fica para as canções “Pity Party” e “Tag, You’re It”. Na primeira, temos o exato momento em que a personagem surta, ao perceber que ninguém se importa o suficiente para dar um pulinho em sua festa de aniversário (nem mesmo o namoradinho por quem declara seu amor na música anterior, “Training Wheels”) que foi tão arduamente planejada, decorada em tons pasteis. Cry Baby tem um ataque de raiva e destrói o lugar completamente enquanto chora por sua solidão.

Já “Tag, You’re It” é a mais forte de todo o álbum, mais pesada até que sua sucessora, Milks and Cookies. Nela, acompanhamos a personagem que vai ao supermercado, mas é interceptada por um pedófilo e sequestrada. Retoma a ideia da inocência roubada e destruída ao utilizar a tradicional rima Eenie meenie miny mo para descrever pelo que passou.

Além das músicas supracitadas, também são parte do álbum “Pacify Her”, “Mrs. Potato Head” e “Mad Hatter”, que encerra o álbum.

Mesmo com a qualidade sonora e das letras, duras críticas caíram sobre Melanie, uma vez que o tema melancólico tem sido muito explorado nos últimos anos, tendo artistas como Lana Del Rey, Sia e Florence and the Machines como exemplos. O grande diferencial de Martinez porém, é que para transpor tal sentimento, ela cria uma narrativa e em momento algum foge de seu eixo, amarrando as canções umas às outras. A temática é forte, inclui morte, violência, abuso sexual, pedofilia e afetação moral, por isso sua classificação indicativa de dezoito anos deve ser respeitada.

Não se pode negar o lirismo fascinante e como cada detalhe parece ter sido considerado no processo de composição do álbum. A voz angelical de Martinez pareada com as letras e melodias soturnas deram ao disco uma atmosfera teatral e sombria, feito realizado por uma artista relativamente jovem tanto na vida, quanto na indústria musical. Cry Baby é para aqueles que buscam o inesperado, um sopro de novidade em um cenário musical saturado da boa e velha mesmice.  

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