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14 dezembro, 2014

Thirteen Reasons Why, Jay Asher.

Thirteen Reasons Why*

Titulo no Brasil: Os 13 Porquês
Autor(a): Jay Asher
Editora: RAZORBILL
Ano: 2007
Paginas: 288
IBSN: 1595141715
Inglês nível: Pré-Intermediário
no goodreads e no skoob

"When you hold people up for ridicule, you have to take responsibility when other people act on it.” — Hannah.
Se tem uma coisa que Clay Jensen não esperava encontrar dentro da caixa que deixaram para ele na porta de sua casa, essa coisa são fitas cassete. E ainda assim, ali estavam elas, todas as sete. Afinal quem diabos usa fitas cassete? Surpreso é pouco para descrever a reação de Clay quando ele escuta a voz de Hannah Baker, sua colega de classe que se suicidou a poucos dias atrás. Imaginem então quando Hannah declara que, nessas fitas, ela contará os treze motivos que a levaram a dar fim a própria vida e que, todos que receberam essas fitas, também tiveram alguma participação em sua morte.


Clay e Hannah dividem o foco narrativo de todo o livro, já marcando ai quão interessante ele poderia se tornar. É emocionalmente difícil ler a narração da Hannah pelos olhos do Clay, já que ela tem/tinha uma certa importância para ele. O diálogo que se cria entre Clay e a garota enquanto ele escuta as fitas é intenso, sendo a parte da Hannah póstuma. Thirteen Reasons Why é um baque para quem, como eu, lê uma quantidade considerável de “romances de capa rosa”. Essa é uma história que desde o início está a fadada a não ter nada de feliz. A conversação, as interrupções onde o Clay diz “Eu estava bem aqui, Hannah” ou “Não faça isso, Hannah” ou “Você tinha a mim, Hannah”. Deus, como essas partes enchiam meus olhos de lágrima e me faziam querer me curvar em bola e chorar.

“We didn't get that chance because I was afraid. Afraid I had no chance with you.” — Clay.
Ainda assim não me senti conectada a nenhum dos personagens, mesmo que tenha me importado com eles o suficiente para querer ir até o final do livro. Talvez tenha gostado de um personagem, do Tony, mas honestamente não tenho certeza se gosto dele ou da participação que ele tem em todo o desenvolvimento dos planos da Hannah. E acredito que isso, esse desprendimento, tenha acontecido porque todos os personagens pareceram tão... Humanos. 

E vamos combinar que essa é uma parte importante para o desenvolvimento de uma história que vai tratar de um tema tão controverso. Ter transformado os personagens principais em “mocinho e mocinha” ou “herói ou heroína” teria matado o que esse livro tem de mais interessante que é essa agonia que vem de uma história tão real e tão possível de acontecer. A forma como Jay impõe que encaremos a realidade que ele cria equivale a uma das estrelas que dei ao classificar esse livro. 

Outra estrela é atribuída a forma como o suicídio é tratado nesse livro. Hannah nunca se trata ou é vista como “vitima” durante a história. É obvio que ela é vítima do bullying e do que alguns personagens a fazem passar, mas ainda assim durante toda sua narração dos fatos, ela nunca se vitimiza. E mais, em várias situações ela assume sua parcela de responsabilidade já que tem algumas coisas que ela poderia ter evitado se ela não tivesse tomado alguns caminhos errados. Clay também não glorifica ou a santifica após seu suicídio, se você está se perguntando. Mas para mim a própria Hannah observar sua situação com tanta maturidade e sobriedade foi surpreendente. 
 “How in the world was I alone? Because I wanted to be. That's all I can say. It's all that makes sense to me.”  — Hannah.
Aliás esse não é um livro que trata sobre suicídio de forma alguma. Aqui, Hannah ter tirado a própria vida foi uma consequência e é tratado como uma consequência. Não é marcado por nenhum julgamento ou nenhuma tentativa de fazer o leitor discutir o certo ou o errado. E é ai que entra a minha terceira estrela. Esse livro segue dois tópicos que raramente são trabalhados de forma tão sutil mas ao mesmo tempo perceptível o suficiente para que ele não se perca na "tragédia". 

Quando algo grande dessa forma acontece, é inevitável que isso deixe marcas. É importante você conhecer a história por trás desse acontecimento. Entender os porquês. Mas esse conhecimento deve ser usado como alavanca para te impulsionar a, basicamente, continuar. No começo do livro questionei se, ao enviar as fitas para as pessoas que tiveram algo a ver com esse treze motivos, o que Hannah estava buscando era vingança. Esse é um questionamento que só é respondido no final do livro nas entrelinhas. No ultimo capitulo, Clay fez o que imagino que Hannah esperava que ele fizesse. O que imagino que tenha a motivado a gravar todas as fitas. Poucas vezes me senti tão orgulhosa pelo desenvolvimento de um personagem.

Uma adição desse livro e de algumas resenhas que li por ai fizeram um tópico reaparecer na minha cabeça. Em muitas das resenhas que eu li (no goodreads, principalmente), haviam comentários negativos onde o resenhista dizia que não acreditava que os motivos que Hannah eram “o suficiente” para explicar um ato tão drástico quanto tirar sua própria vida. 
“It may seem like a small role now, but it matters. In the end, everything matters.”  — Hannah.
Talvez se você olhar para as motivações isoladamente, realmente não pareça “o suficiente” para um suicídio de uma garota tão jovem e tão inteligente (como fica claro que ela é nas gravações). Mas quando você junta treze desses pequenos motivos? Cara...! Como é suposto que você julgue a tolerância e as limitações dos outros dessa forma? Como você descobre em que linha se cruza esse limite? Como saber quando a pessoa passou do breaking point, onde ela nem se dá mais ao trabalho de tentar? E, mais do que tudo, quem somos nós (sem intenções de grosseria) para decidirmos o que é ou o que não é relevante para outra pessoa? 
“You don’t know what goes on in anyone’s life but your own. And when you mess with one part of a person’s life, you’re not messing with just that part. Unfortunately, you can’t be that precise and selective. When you mess with one part of a person’s life, you’re messing with their entire life. Everything. . . affects everything.”  — Hannah.
Para mim, ter esse pensamento significa que você não pescou a principal mensagem que esse livro oferece: Ninguém responde por ninguém. É esse pensamento, em geral, que levou Hannah a alcançar um ponto onde ela sentiu que não tinha retorno. Onde ela já desistiu de todo tipo de ajuda que ela poderia ter. 

E eu amo esse tipo de livro que te faz questionar o que você ta fazendo de bom para o mundo e como você enxerga (ou se você enxerga) o bem que o mundo tem a te oferecer. Quantas vezes eu vi pessoas se sentirem desconfortáveis com piadas que para mim pareciam bobeira. E se aquela era a última gota? Essa história envolve tantos aspectos que todo mundo devia pensar sobre: respeito, autoconsciência, bullying, depressão... A lista continua. 

É claro que eu o recomento. Recomendo imensamente. Mas tenha certeza que você o lerá no momento certo, ok? Esse livro é um turbilhão de sentimentos e lê-lo quando você já está conturbado pode ser um tanto opressivo. 



*Thirteen Reasons Why é inglês nível intermediário, porém já foi lançado no Brasil como "Os 13 Porquês" pela editora Atica

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