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29 dezembro, 2015

Heir of Fire, da Sarah J. Maas

Throne of Glass #3: Crown of Midnight

Autor(a): Sarah J. Maas
Editora: Bloomsbury USA Childrens
Ano: 2014
Paginas: 562
IBSN: 1619630656
Livros da Série: #1, #2
Titulo no Brasil: Herdeira do Fogo
Inglês nível: A2
no goodreads e no skoob.
(Contém spoilers dos livros anteriores da série, e não é recomendado para quem ainda não leu Heir of Fire)

Confesso que para essa resenha sair, tive que ler Heir of Fire - conhecido aqui no Brasil como Herdeira do Fogo - duas vezes, com um gap de 5 meses. 

Na primeira vez, dei 3.5 estrelas para o livro. Me estressei e quase abandonei a leitura. Pensando bem, talvez essa teria a decisão mais acertada. De março até o final de outubro afirmei com toda a certeza do mundo que esse era o pior livro da série. A grande diferença foi que não estava preocupada em como as coisas terminariam e pude apreciar como elas se desenvolveram. Timing is everything, meus queridos, pois ao reler HofF com calma e paciência, não tem nada que eu alteraria nesse volume da série. 

Aqui estão os porquês:

Uma das coisas mais difíceis é não só criar uma história absolutamente única, mas que a cada livro se desenvolva em algo ainda maior, mais abrangente e complexo. Alcançar tal feito envolve muito planejamento, muito esboço, e muito vai e vem dentro da própria história para ter certeza que não haja buracos impossíveis de serem tapados eventualmente. Por tudo isso, Sarah J. Maas (e sua equipe de editores) é um gênio e explica-se porque ela é tão bem sucedida entre os livros épicos para jovens adultos.

O modo como o mundo se expande e muda nesse terceiro volume, não quero falar que foi de outro mundo mas caralhos se não é a melhor forma de descrever. Nós nos encontramos cercados por mais perigo, mais mitologia original, mais criaturas sombrias. Temos a oportunidade de espiar no passado da Celaena através de flashbacks, o que não nos mostra exatamente como era Terrasen, mas como eram seus governantes. 

Na primeira vez que li, por Deus, parecia que nada que Chaol Westfall fazia era certo ou inteligente. Talvez fosse porque estava exasperada por ele ter feito C. fugir e se esconder, (ainda que no final das contas o que ele fez tenha sido de suma importância para o desenvolvimento da própria Sardothien). Na segunda vez, consegui enxergar muito mais em Chaol. De idiota o Capitão da Guarda tem pouquíssimo. Talvez ele rodar como uma barata tonta, aparentemente sem um porque, não tenha sido tão irritante dessa vez pois eu já sabia para qual caminho todas as decisões que ele toma ao longo de HofF o levaria, a quem ele realmente é leal. De certo foi um alivio não me desapaixonar por um personagem que vinha criando tanto afeto.

“Chaol kept his sword drawn. “I will not go to Anielle,” he growled. “And I will not serve you a moment longer. There is one true king in this room—­there always has been. And he is not sitting on that throne.”

Outra dificuldade foi me abrir às mudanças, tanto de ambiente quanto a adição de diversos personagens. A integração de ambos foi essencial para a expansão desse universo e, agora que já li Queen of Shadows, é óbvio que cada um tem sua importância na cadeia de acontecimentos. 

Manon Blackbeak é perversa e eu a adorei por isso. Adorei quão animalescas e primitivas são as Ironteeth. De primeira, tive dificuldade em me apegar, mas acho que aqui aconteceu o mesmo que com Chaol quando reli o livro. Já sabia o que esperar de Manon e já tinha teorias sobre porque ela provavelmente se tornaria importante para o desenrolar do enredo: tenho quase certeza que ela vai dar uma mãozinha na hora de destruir as torres e trazer a magia de volta, apesar de não ter certeza do que a levaria a ajudar. Assim, consegui me apegar a detalhes, trejeitos, entender o que a torna uma personagem tão complexa, moralmente cruel mas ainda assim cativante. Ela é a representação do mal que não é totalmente mal.

“Witches didn't need blood to survive, but humans didn't need wine, either.” 

Rowan Whitethorne me fez entender perfeitamente o que a  Sam, do Thoughts on Tomes e a Wiebke do 1book1reaview disseram em seus videos falando sobre bad boys (que você pode assistir clicando aqui e aqui) e como é mais fácil aceitar o inaceitável de um cara de livros fantásticos, obviamente fictícios. Esses personagens vivem sob regras sociais diferentes, o que é moralmente certo e errado no nosso universo pode ou não ser inadmissível. Se Rowan fosse um cara em um romance contemporâneo, eu teria um milhão de problemas com a existência do cara. Mas esse não é um romance contemporâneo. Mal é um romance at all. E eu me apaixonei por Rowan. Pelo seu histórico, pela sua personalidade rudimentar, pelo senso de humor estranho. 

Mais do que tudo, o admirei por ele respeitar Aelin como igual, invés de subjuga-la e tentar fazer ela fugir e se esconder. Rowan compreendeu a força e necessidade dessa personagem de lutar por aquilo que ela acredita. Por mais estúpido que ele fosse no começo do livro, cada vez que ele a empurrou contra a parede e a pressionou foi para provar para ela mesma o que ela era capaz. A amizade entre os dois estranhamente me lembrou minha amizade com meu próprio melhor amigo, ainda que no nosso caso não tenhamos vidas tão trágicas ou dramáticas. Deve ser pela pureza honesta, forte e duradoura que eles transpassam. Mais intensa até mesmo do que a que ela dividiu com Chaol nos livros anteriores.

“I claim you, Rowan Whitethorn. I don't care what you say and how much you protest. I claim you as my friend.” 

Falando em Chaol, várias vezes me pus e seu lugar no que se tratava da sua indecisão sobre a quem ele seria leal na batalha que se desenvolvia em frente aos seus olhos. Não que não fosse frustrante como as vezes ele parecia seguir o fluxo sem ter um plano fixo naquilo que ele acreditava, mas né, não dá pra ter tudo. Chaol teve que deixar de lado vários preconceitos e ideias que ele tinha como cem por cento verdadeiras, para chegar onde ele chega ao final de Hair of Fire, para tomar sua decisão.

Talvez meu maior erro tenha sido deixar passar batido a importância do Dorian e sua participação na história. Logo no primeiro capítulo de Queen of Shadows fica claro que que o rapaz é tão importante quanto qualquer outro, se não mais. Enquanto as coisas estavam se desenvolvendo com a Sorscha eu estava tipo: será que isso é relevante, Sarah J.? Mas ao final fica claro o porquê da construção de um relacionamento assim, no meio do nada.

Por último, fomos apresentados a Aedion Ashryver, o lobo do Norte (sentiram a referência?), primo de Aelin. Minha impressão inicial foi que o cara era muito suspeito, depois achei que ele tinha quedinha pela prima, até que finalmente aceitei que esse é um tipo de lealdade que eu nunca compreenderia, então esperaria pra ver o que vinha desse personagem nos próximos livros. O mais legal foi o leve e inesperado bromance que nasce entre ele e Chaol, hehe. Chaol precisava de um amigo e Aedion precisava de intel sobre Celaena então foi um mais um caso de interesses comuns do que de amizade verdadeira, mas ainda assim foi divertido.

Lá pelos 77%, meu estomago começou a revirar do jeito perigoso. Estava dando tudo errado e eu queria vomitar minhas tripas para fora. Eu sabia que no final das contas tudo daria certo, afinal esse era apenas o terceiro volume da série e mais três viriam, mas a que custo? Senti tanto pela Ailen, pelo Rowan, por todas as pessoas envolvidas até aquele ponto e principalmente, senti muito pela causa. Eu só queria chegar ao fim do livro de uma vez e sentir um tipo forjada de paz.

80% dos livro, e eu estava em prantos no meio do ônibus, a caminho da universidade, sobrecarregada pelo mix de emoções. Dor, pesar, consternação, vazio, desesperança. Contudo, no meio de tudo isso havia essa garota, catando seu caquinhos e remendando a si mesma, recolhendo o que havia sobrado dela e aceitando seu lado sombrio e finalmente compreendendo a importância do fogo que ela traz em suas veias. Orgulhosa. Fiquei tão orgulhosa dela.

O desenvolvimento da Celaena/Aelin foi de outro mundo, um show à parte. Ao final do livro eu estava olhando pro nada chorando por tudo que ela passou e tudo que ela vai ter que encarar daqui pra frente. Não entendo como pude não me sentir assim da primeira vez já que foi algo tão forte. Tudo que ela teve que superar, tudo que ela teve que aceitar e finalmente se desprender... A força psicológica da Aelin foi surreal. A garota é uma das melhores personagens que já li sobre. Ela é a representa a dificuldade de assumir o controle da sua própria vida e destino, da aceitação de si próprio, da força não-física feminina. Por tudo isso e por todas as coisas que não posso discutir aqui, senti tanto orgulho por ela e pelo que ela se tornou.

Sim, tem bastante chororô por causa da Nehemia, e me lembro de ter ficado bastante frustrada com a incapacidade da Celaena de seguir em frente. O que convenhamos, foi bastante insensível da minha parte. Tenho uma amiga-irmã e sei que se um dia eu viesse a perde-la da forma que C perdeu N, eu precisaria de mais do que alguns dias para superar. Me admira que na primeira vez não tenha sentido nem um pouco de compaixão pela dor de Celaena, mas, na segunda vez, compaixão foi tudo que consegui sentir. 

Compaixão e orgulho. 

Eu não sei se vocês se lembram mas no primeiro livro, Throne of Glass, tem essa frase que Celaena costuma repetir sempre que se sentia insegura: "I am Celaena Sardothian and I will not be afraid". Bom, a frase que encerra Heir of Fire é "I am Aelin Galathynius and I will not be afraid."  E mais uma vez eu explodi em lágrimas.

Muita merda está para acontecer, eu estava literalmente citando Game of Thrones: brace yourselves, winter is coming. Só que, o que vem vindo é puro fogo.




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